No estudo, constatou-se a maior prevalência da fratura do colo do tálus no sexo masculino (77,8%) e em jovens (idade média de 30,8 anos), semelhante ao que reporta a literatura.
Isso evidencia a importância do correto tratamento de uma fratura que apresenta grandes taxas de complicações e sequelas muitas vezes permanentes em pacientes economicamente ativos.
A origem do trauma da fratura de colo do tálus nos pacientes estudados foi por acidente automobilístico, queda de altura e trauma no esporte, que acarretaram um mecanismo de força que deslocou o osso por dorsiflexão súbita em direção à borda anterior da tíbia.
Se a força deformante continua após a produção da fratura, ocorrerá subluxação / luxação subtalar. Com forças maiores, o corpo pode se deslocar posteriormente.
Em nossa série, 94% dos pacientes tiveram trauma de alta energia como mecanismo de trauma de suas fraturas, número maior do que o encontrado no trabalho de Sakakiet al., que foi de 78%.
A incidência de fraturas expostas foi de 16,6%, índice próximo ao encontrado na literatura nacional;
66,6% das fraturas expostas evoluíram com osteonecrose, o que implica pior prognóstico.
O tempo entre a data da fratura e a data da realização da cirurgia definitiva variou entre 5 e 47 dias, sendo que metade dos pacientes (50%) foi operada entre 13 a 24 dias após o trauma.
Neste período não estão incluídos os pacientes com fixação externa provisória na urgência. Esse longo tempo até a realização da cirurgia definitiva pode ser atribuído a outras fraturas e traumas sistêmicos associados, a lesões do pé que frequentemente não são diagnosticadas em pacientes politraumatizados e, por último, a lesões de partes moles, que atrasam o tratamento definitivo. Apesar da irrigação sanguínea do tálus ser crítica nas fraturas do colo com desvio, a espera para tratamento cirúrgico definitivo parece não aumentar o risco de osteonecrose.
Esta complicação está mais relacionada ao desvio e à classificação da fratura, à sua cominuição e à não redução de urgência. A prevalência identificada do sinal de Hawkins foi de 55,6%. O resultado encontrado ficou próximo aoreferenciado na literatura internacional, que é de 48%.
Não há dados, na literatura nacional, sobre a prevalência deste sinal em hospitais de referência no Brasil.
Dentre os pacientes que apresentaram o sinal de Hawkins, todos evoluíram com ausência de osteonecrose, porcentagem que cai para 50% quando o sinal de Hawkins está ausente. Esses dados são condizentes com a literatura, que afirma que um sinal de Hawkins positivo exclui o diagnóstico de osteonecrose do tálus, porém um sinal negativo não necessariamente quer dizer evolução ruim (alta sensibilidade e baixa especificidade).
De acordo com a escala AOFAS, obtivemos somente nove pacientes analisados, sendo que cinco tinham sinal de Hawkins positivo. A pontuação média foi de 59,4 pontos,resultado pior do que o encontrado no estudo de Bastos et al., que foi de 73 pontos. Este dado é limitado, dada a natureza retrospectiva da avaliação do estudo, com grande número de pacientes não reavaliados (50%), o que, embora seja comum nos trabalhos que avaliam o resultado de tratamento de lesões traumáticas, dificulta o estabelecimento de prognóstico preciso, principalmente ao avaliarmos complicações como osteonecrose.
Autores:
Otaviano de Oliveira Júnior, Philipe Melgaço Mendes, Mateus Martins Marcatti, Bruno Vieira Medeiros, João Carlos Pereira Salomão, Fabrício Melo Bertolini
Palavras-chave:
Tálus/lesões; Fraturas ósseas/complicações; Fraturas ósseas/classificação
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https://scijfootankle.com/ABTPe/article/view/709/654