
O futebol, cada vez mais, tem se tornado um esporte popular em vários países, mesmo naqueles sem tradição, sendo amplamente difundido no Brasil. Esta é uma tendência mundial, especialmente porque, para se jogar futebol, são necessários poucos recursos. Segundo dados da Fédération Internationale de Football Association (FIFA) há mais de 20 mil jogadores profissionais somente no Brasil. O esporte cresceu mundialmente a uma taxa de 10% ao ano no período de 1993 a 2003
As exigências físicas, no futebol atual, são cada vez maiores e os atletas trabalham em seus limites máximos, estando predispostos a lesões. Dessa forma a sobrecarga de treinamento e excesso de jogos tem demonstrado estatisticamente maior número e variados tipos de lesões, motivados pelo excesso de indicação cirúrgica nos ombros, avaliaram 74 pacientes assintomáticos e encontraram alterações em 63% das radiografias e concluíram que muitos achados, ditos patológicos, podem ser identificados nas radiografias de ombros normais. A partir dessa avaliação realizada nos ombros e tentando fazer um paralelo com as alterações vistas comumente nos tornozelos de futebolistas, este estudo procurou identificar as principais alterações radiográficas nos tornozelos de atletas profissionais de futebol, em atividade regular e assintomáticos em relação ao tornozelo.
DISCUSSÃO
A síndrome de impacto anterior do tornozelo é de ocorrência frequente na prática esportiva. A primeira descrição do “pinçamento anterior do tornozelo” é de Morris,
em 1943. Todos seus casos envolvem pacientes que praticam esportes em que é necessária a flexão máxima do tornozelo. Este autor relacionou a sintomatologia de seus pacientes à presença, radiográfica e clínica, de osteófitos marginais da borda anterior da tíbia e do colo do tálus, que são interpretados como neoformações devidas à constante tração exercida na região de inserção da cápsula. Mc Murray, em 1950, chama o achado, de “tornozelo do atleta”.
O ́Donoghue, em 1957, alerta para uma causa de incapacitação no tornozelo devido a cristas osteocondrais formadas em um local imediatamente proximal ao lábio anterior
da superfície articular distal da tíbia e na área oposta à superfície dorsal do colo do tálus. Segundo O ́Donoghue, tais lesões são causadas por trauma direto durante excessiva dorsiflexão do tornozelo, em que o colo do tálus é forçado contra a tíbia. Traumas menores de repetição fazem as cristas aumentarem de tamanho, facilitando a ocorrência de colisão entre o tálus e a tíbia.
A tração recorrente na cápsula articular durante a flexão plantar máxima (10-12) e o dano direto na borda anterior da cartilagem articular do tornozelo, associados a microtraumas de repetição (13-16), são outras hipóteses etiológicas.
Niek van dijk et al. concluem, em um estudo com atletas profissionais de futebol, que o dano direto à borda anterior da cartilagem do tornozelo, associado a microtraumas de repetição, é uma hipótese etiológica mais plausível do que a hiperflexão plantar do tornozelo.
O quadro clínico clássico caracteriza-se pela queixa de dor contínua no tornozelo, que aumenta durante a dorso flexão excessiva. O exame revela sensibilidade na parte anterolateral do tornozelo, ao ocorrer dorsoflexão ou flexão plantar intensas.
Scranton e McDermott classificaramos esporões do tornozelo de acordo com seu tamanho e grau de envolvimento articular (Figura 2), demonstram que o tratamento e a recuperação se correlacionavam com o grau.
O presente trabalho identifica e quantifica as principais alterações radiográficas em tornozelos de atletas profissionais de futebol, demonstrando que tais lesões podem ocorrer sem sintomas.
São também avaliadas as relações entre a presença radiográfica do osteófito tibial anterior (alteração mais frequente) e a instabilidade lateral do tornozelo, história prévia de entorse isolada, contusões nos tornozelos direito e esquerdo, idade, tempo de profissão, lado dominante do chute, posição do atleta em campo, raça e tipo de pisada (neutra, pronada ou supinada), além de verificar outros achados radiográficos presentes. A instabilidade funcional do tornozelo é aquela que o paciente refere sensação de falseio, porém, o tornozelo é estável clinicamente. A instabilidade mecânica refere-se à um tornozelo com mobilidade além dos limites fisiológicos e que apresentam teste da gaveta anterior do tornozelo e/ou teste talar tilt presente.
Utiliza-se os achados radiográficos segundo a classificação de Scranton e McDermott
para impacto anterior do tornozelo, sendo o grau I o impacto sinovial, com radiografias demonstrando osteófito com até 3mm; o grau II apresenta exostose de reação osteocondral, com radiografias mostrando osteófito com mais de 3mm e não sendo observado esporão talar (Figura 2B); o grau III tem osteófito tibial grave, com ou sem fragmentação, e com um esporão secundário no dorso do tálus, frequentemente com fragmentação dos osteófitos (Figura 2C); o grau IV mostra destruição osteoartrósica talocrural generalizada, com radiografias sugerindo alterações osteoartrósicas degenerativas medial, lateral ou posteriormente (Figura 2D).
Verifica-se que o osteófito tibial anterior é o achado radiográfico mais prevalente, ocorrendo em 60% dos atletas avaliados. Esse achado está de acordo com os trabalhos de Massada e de Cheng e Ferkel, que também observaram esporão tibial anterior em 60% dos futebolistas profissionais avaliados.
Segundo os achados do presente trabalho, a imagem do osteófito tibial anterior é mais frequente em atacantes, com prevalência de 31,4%. Todos os jogadores que apresentavam instabilidade lateral crônica funcional têm também impacto anterior do tornozelo. Entretanto, essa associação mostra-se limítrofe (valor p=0,069). No paciente que apresenta instabilidade lateral crônica mecânica, observa-se também osteófito tibial anterior. A prevalência de impacto anterior do tornozelo é maior entre os canhotos (85,7%) e entre os que tiveram entorse prévia (69,5%). Os indivíduos da raça faioderma apresentam impactoem 66,7% dos casos.
Quanto ao tipo de pisada, o osteófito tibial anterior ocorreu em 64,7% dos indivíduos que possuem pisada neutra.
Deve-se ressaltar que nenhuma associação foi estatisticamente significativa (valor p>0,05). A média de idade dos atletas foi menor entre os com impacto anterior, assim como o tempo de prática esportiva. Entretanto, ambas as características não apresentam diferenças significativas entre os dois grupos. A prevalência de osteófito tibial direito não tem associação com a dominância do pé (valor p>0,05), entretanto a prevalência de osteófito tibial anterior esquerdo tem associação com a dominância do pé (valor p=0,03), sendo mais frequente entre os canhotos (85,7%). Acredita-se que esse resultado seja um viés do estudo, relativo à pequena amostragem de jogadores canhotos.
Os autores acreditam que a simples presença de alterações radiográficas nos tornozelos de jogadores de futebol profissional não justifica sintomas dolorosos, uma vez que esses achados ocorrem na maioria desse grupo, o que também confirmado por outros autores. Outras lesões associadas devem ser investigadas quando esses atletas apresentarem queixas de dor no tornozelo, principalmente a instabilidade do complexo ligamentar anterolateral. A literatura não descreve a frequência em que ocorrem os demais achados radiográficos descritos em tornozelos de atletas profissionais de futebol ou de outros esportes, sintomáticos ou assintomáticos.
CONCLUSÃO
Concluímos que o osteófito tibial anterior foi a alteração radiográfica mais frequente em tornozelos de jogadores de futebol profissional, ocorrendo em 60% dos atletas assintomáticos.
Autores:
Otaviano de Oliveira Júnior, Fabrício Melo Bertolini, Alípio Aguiar Paiva, Clebs Matheus Moura Braga, Leonardo Wagner Nébias de Andrade, Rodrigo Campos Pace Lasmar
Palavras-chave:
Tornozelo/radiografia; Traumatismos em atletas; Medicina esportiva; Futebol; Osteófito
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https://scijfootankle.com/ABTPe/article/view/597/543